Há pouco mais de um mês, em entrevista ao podcast Guarda Volume, a secretária municipal de Obras de Foz do Iguaçu apresentou uma justificativa que passou quase despercebida: segundo ela, as dificuldades da atual administração em acelerar obras e resolver os problemas da cidade seriam consequência de “trabalhar com o orçamento herdado do governo anterior”.
A explicação, que à época pareceu apenas um comentário isolado, voltou à cena nesta semana, agora pela voz do líder do governo na Câmara de Vereadores, que repetiu a mesma tese em suas redes sociais.
A coincidência de discurso mostra que a narrativa, antes improvisada, virou estratégia oficial: culpar o passado para justificar o presente.
Mas a retórica não resiste aos fatos.
A Câmara Municipal autorizou, no último ano da legislatura anterior, um remanejamento orçamentário de 15% para o novo governo, quase o dobro do que o ex-prefeito Chico Brasileiro teve durante todo o mandato, limitado a 8%.
Isso significa que a atual gestão dispõe de margem muito maior para reorganizar prioridades, ajustar despesas e decidir onde aplicar os recursos.
Além disso, os dados do Observatório Social, divulgados pelo portal H2FOZ, revelam que a arrecadação municipal ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão e deve crescer quase R$ 90 milhões em 2025, alcançando R$ 1,9 bilhão — um aumento de 4,8% sobre a estimativa inicial. Ou seja, o problema não é dinheiro. É direção.
A peça orçamentária é dinâmica, não uma herança imutável. Governar é decidir: onde cortar, onde investir, onde fazer mais com o que se tem.
Quando uma administração culpa o antecessor por sua própria lentidão, ela confessa a própria incapacidade de planejar e executar.
O discurso do “orçamento herdado” é uma falácia conveniente. Tenta mascarar a ausência de resultados, mas escancara a falta de comando.
Foz do Iguaçu vive um dos maiores períodos de arrecadação da história, e, ainda assim, a sensação nas ruas é de paralisia. Buracos, atrasos e promessas não cumpridos formam um retrato que o marketing não consegue corrigir.
A verdade é simples: não falta orçamento, falta gestão. E quando falta gestão, sobra narrativa.

















