Tem dia que a gente acorda sem vontade de ser forte. Cansa. Porque ser forte o tempo todo dói. E ninguém vê. Todo mundo aplaude o “vencedor”, mas ninguém enxerga o preço que ele pagou pra continuar de pé.
A vida cobra caro. Cobra em silêncio. Cobra nas madrugadas em que o sono não vem, nas mensagens que nunca chegam, nos abraços que a gente finge não sentir falta. E quando a dor aperta, não tem comprimido, conselho ou frase motivacional que dê conta.
A real é que tá todo mundo tentando se anestesiar de alguma coisa, e eu não sou diferente. Virar um copo, eu viro, principalmente se for de cachaça. Vestir um sorriso, eu visto também. Não é falso, é consciente. É saber que meu nome não é só um CPF, é um CNPJ que precisa estar de pé, mesmo quando o coração quer se ajoelhar.
Às vezes, é isso que me faz camuflar o que sinto, engolir o nó na garganta e seguir falando com o mundo, porque, no fundo, anestesiar a dor virou uma forma bonita de continuar vivo.
Mas a vida, essa filha da mãe, tem um talento especial pra esfregar a verdade na nossa cara. Ela não avisa, não tem hora marcada. Um dia a ficha cai: ou você sente, ou você endurece. E endurecer demais também é perigoso. Porque quando a dor não dói mais, é sinal de que alguma coisa em você já morreu.
Mesmo assim, a gente segue. Meio torto, meio remendado, mas segue.
Porque no fim, o que faz a diferença não é não sentir, é ter coragem de continuar, mesmo sem anestesia ou anestesiado, é sobre isso.