Quero, nesta minha primeira aparição no Diário das Águas – cheio de alegria –, iniciar minhas análises e comentários acerca do que mais me empenho em fazer.
As análises que faço não são por vocação, tampouco por prazer, talvez por indignação em ver e ouvir tantos absurdos e rejeitar fazer parte do grupinho que aplaude o que está posto neste Brasil.
Passadas algumas horas do 7 de setembro, temos um saldo na conta, mas confesso: não tenho ideia se saldo positivo ou negativo.
Mas vamos didaticamente por parte: pela lógica, saldo positivo; pela não lógica em vigor, incerto.
O bloco dos politicamente corretos segue garimpando um nome morno, um nome nem lá, nem cá, para socar goela abaixo no povo. Nem um nome à direita, nem um nome à esquerda; querem trazer do fundo do poço uma “água de batata” com promessas de pacificação nacional.
BALELA. O Brasil não está dividido em dois; está, ao menos, dividido em três grandes blocos. Os donos do teatro, o famoso centrão da governabilidade, acusam a direita e a esquerda de alimentarem o discurso da polarização para lucrar com suas narrativas políticas, mas, pasmem, este mesmo grupo, que não fica de fora das festas obscenas, também não almeja ficar de fora deste banquete e, ironicamente, empanturra-se do mesmo cardápio.
Os políticos, a imprensa, a classe artística, os engomadinhos: todos demonizam a polarização, mas utilizam este mesmo fato para rentabilizar para seu grupo político.
Estariam prometendo pacificação agora, se não fosse a polarização? Lógico que não: é tudo engodo. Não há como retroceder nesta situação. Não por enquanto.
A esquerda perdeu as ruas e quer retomá-las, nem que seja com violência. A direita domina os atos públicos e tudo indica que, cada vez mais, consolida seu poder de mobilização. A partir disto, advêm outras observações.
Neste embate, o centro só encontra espaço dentro do Congresso Nacional, já que nas ruas não há vaga para o discurso morno. A guerra é fria, no campo das narrativas, e quem solta pombinhas brancas leva tapas da direita e da esquerda. Basta olhar as pesquisas, mesmo tendenciosas que são.
Se o centro tensionar em uma terceira via, pode ser engolido nas urnas, ou pela esquerda ou pela direita, e a única maneira de o sistema ser mantido no poder é através de manobras intencionais do próprio sistema.
Se a direita se elege, o centrão sobrevive com suas chantagens e negociatas de sempre. Se a esquerda for posta no poder, o dito centrão virará poeira, tendo suas pseudolideranças enjauladas como um hamster prestes a virar alimento de cobras. Se o centrão fisiológico vira comida de cobra, a direita, então, será dissipada tão rapidamente como se dissipa a luz quando chegam as trevas.
Mas, estrategicamente, o povo colocou a bola na marca do pênalti. A classe política cobrará a penalidade máxima. Se a bola entrar, é gol; se a bola for para fora, o jogo estará acabado e o placar definido.
Em outras palavras: as manifestações do dia 7 de setembro chamaram atenção, dentro e fora do país. Se, com estes atos, o Congresso Nacional avançar a pauta da anistia ampla, geral e irrestrita, seguida da responsabilização dos abusadores do poder, o Brasil retoma os trilhos da justiça, da liberdade e da democracia representativa.
Por outro lado, se houver mais resistência e achincalhamento por parte do Judiciário, prova-se que o país está, de fato, em período de exceção, onde a democracia é mera lembrança e nós, meros vassalos sem liberdade, sem justiça e sem democracia.
O poder já não emana mais do povo, o poder já não é exercido pelos representantes. Não contentes em viver um mundo de utopias, tentam impor a não lógica a quem teima em ver a realidade.