Nem chegamos a dezembro e o governo Silva e Luna já sangra por dentro. Depois da saída de João Zisman, secretário de Comunicação e Relações Institucionais, veio a queda mais simbólica, o coronel Áureo, até então o “01” do governo, deixou o cargo de Secretário de Governança.
A notícia pegou de surpresa até os aliados mais próximos. Áureo não era apenas um nome na hierarquia: era o braço direito, o homem de confiança, o que muitos chamavam de “prefeito de fato”.
O militar que acompanhou o general por anos, em Itaipu, na Petrobras e na campanha, agora deixa o governo sob um silêncio que grita.
Nos bastidores, o tom é de ironia amarga. “Choram as Rosas”, dizem, numa alusão direta à ex-primeira-dama Rosa Jerônimo, que, segundo a memória política da cidade, tinha mais poder que o próprio prefeito Chico Brasileiro.
A comparação é inevitável: Chico tinha Rosa, Silva e Luna tinha Áureo. Ambos fortes, próximos e, para muitos, decisivos.
Mas Foz do Iguaçu não é quartel, e o terreno político local não obedece a hierarquia. Obedece a conveniência.
E a matemática dos interesses sempre vence a lógica da lealdade.
O coronel, acostumado a comandos e disciplina, não resistiu ao campo minado da política iguaçuense, onde a fidelidade dura menos que um ciclo de notícias e a confiança é artigo de luxo.
Sua queda marca o fim simbólico da aura de ordem que o governo tentava preservar desde o início.
Agora, entra em cena o general Garrido, com a missão de reorganizar a governança e tentar restabelecer o mínimo de estabilidade.
Ele chega com moral e boa interlocução com o chamado G9, grupo de vereadores que vem se consolidando como uma força independente, um novo centro de gravidade política dentro da Câmara Municipal.
O problema é que, em Foz, quem não dialoga com o G9 dificilmente governa. E o bloco sabe disso. A relação com o Executivo já não é de parceria, é de cálculo.
Um movimento malfeito, uma promessa não cumprida, e o governo pode ver a base escorrer pelos dedos.
O cenário lembra a velha fábula política das três cartas.
A primeira: “Culpe o antecessor.”
A segunda: “Reorganize a casa.”
A terceira, a mais temida, diz: “Escreva suas três cartas para o próximo.”
Silva e Luna parece ter aberto a segunda. O tempo do discurso já passou. Agora é o tempo das entregas, e dos resultados que ainda não chegaram.
A administração que começou prometendo eficiência militar, austeridade e gestão técnica, hoje dá sinais de desgaste prematuro. Perde aliados, acumula tensões e vê a narrativa da estabilidade desmoronar diante dos fatos.
Em política, o comando não se impõe, se conquista. E, em Foz do Iguaçu, o poder raramente está com quem acredita tê-lo.
Porque aqui, no tabuleiro da política, o general pode até achar que dá as ordens, mas é o jogo que dita as regras.

















