As redes sociais são um fenômeno, disso ninguém duvida. A amplificação do uso da internet trouxe consigo um potencial nunca imaginado de facilitar o acesso à informação e conectar pessoas. Mas como tudo na vida, o bônus vem sempre acompanhado do ônus — e, nesse caso, o ônus é pesado.
Hoje, os problemas derivados das redes começam a aparecer com força. Numa sociedade profundamente marcada por um baixíssimo hábito de leitura, altos índices de analfabetismo funcional, escassa educação financeira, emocional e moral, as plataformas digitais tornaram-se o palco ideal para a idiotização em massa.
Nesse cenário, a ignorância não apenas sobrevive: ela floresce. Em um ambiente onde pensar é esforço demais e saber é artigo de luxo, a imbecilidade encontrou solo fértil. O Brasil não é para amadores — mas é feito por eles.
Aqui, tudo que em outros países seria ferramenta de crescimento vira caricatura grotesca: marketing multinível vira pirâmide, coaching vira charlatanismo, funk vira pornografia sonora, e “trader” vira novo nome para ilusão financeira.
Agora, a moda é os “influencers”. O termo até soa sofisticado, mas carrega em si a tragédia anunciada: influenciador, ou seja, aquele que molda o comportamento de outros. A pergunta, portanto, não é “por que existem influencers?”, mas sim: “por que eles se tornaram referência?”
A resposta é brutal: porque a ignorância virou tendência. O influenciador é menos uma causa e mais um sintoma. Ele existe porque existe quem o consuma.
O idiota que ganha palco só o faz porque há uma plateia de idiotas invisíveis, prontos para aplaudir. Como diria Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra” — e as redes sociais transformaram a burrice em trending topic.
Vivemos uma era onde a opinião substituiu o conhecimento, e o carisma eclipsou o conteúdo. Ser influencer hoje não é informar, é performar. Não importa o que se diz, mas como se aparece. A fórmula é simples e lucrativa: fale com convicção sobre aquilo que você desconhece — o algoritmo fará o resto.
E quanto mais rasa a mensagem, maior a viralização. Afinal, pensar cansa. Pensar ofende. Pensar, hoje, virou crime cultural. E quem ousa pensar com profundidade, quem estuda, quem mergulha na complexidade da realidade, é logo tachado de “arrogante”, “elitista” ou — ironicamente — “sem carisma”.
Mas cuidado: toda geração que endeusa ignorantes, prepara o terreno para tiranos. A erosão da inteligência pública sempre precede a derrocada moral de uma civilização. Quando o saber vira piada e o vazio vira celebridade, o país cria uma cultura onde pensar virou subversão.
O influencer, afinal, é só a casca. O problema está no conteúdo — ou na ausência dele.