Às vezes, no meio dessa bagunça chamada vida, a gente esbarra em histórias que nem são nossas, mas que mexem com a gente como se fossem. É o caso da Anna e do Tiago.
Eu acompanho os dois há anos pelas redes, e sempre vejo aquele blend de momentos felizes, risadas, vida seguindo… até que, do nada, surge a Anna no hospital outra vez e o Tiago pedindo orações. E toda vez que isso acontece, eu me pego admirando esse amor quase indestrutível.
Um amor que, sinceramente, me constrange, no bom sentido, porque o Tiago abre mão da própria vida, da própria rotina, dos próprios sonhos, para segurar a mão dela sem soltar por um segundo. É abnegação pura, dessas que a gente já nem acredita mais que exista.
Mas essa história começou lá atrás, quando nenhum dos dois imaginava o que vinha pela frente.
Eles se viram pela primeira vez numa festa de família, num aniversário que, por coincidência, era duplo: o irmão caçula dele e… o aniversário dela também.
Era para ser só mais um dia comum, mas teve troca de olhares, aquele “não sei o nome, mas sei que vou lembrar”. Ficou por isso mesmo, porque ela tinha 15 anos e a vida ainda era grande demais para aquela história começar ali.
A vida, porém, tem mania de insistir. Outro encontro na praça. Outro no restaurante. Aquelas coincidências que deixam de ser coincidência e viram sinal.
E aí veio o Orkut, porque toda boa história dos anos 2000 tem um Orkut. Conversas, SMS, curiosidade crescendo e, enfim, o primeiro encontro: jantar no Rafain Palace, beijo, abraço, clima bom. E pronto: não desgrudaram mais.
Namoro, noivado, casamento em 2016, mudança para Francisco Beltrão, vida nova, rotina nova e um sonho que sempre foi plural: os filhos.
Mas aí começou a batalha. Anna sentia dores estranhas. Sintomas que não combinavam com uma vida saudável. Procurou ajuda, fez exames, esperou… até receber o diagnóstico que mudaria absolutamente tudo: endometriose profunda, estágio severo. Um diagnóstico que assusta, que cala, que vira a vida pelo avesso.
Cirurgia. Medo. Dor. Mas também parceria. Tiago estava lá. Sempre!
Depois disso, voltaram para Foz. Retomaram a rotina, o trabalho, a vida possível. Mas o sonho dos filhos seguia pulsando tanto quanto antes. Mesmo com a medicina dizendo “difícil”, eles seguiam dizendo “Deus pode”.
Em 2021, a vida deu um sinal: Anna engravidou naturalmente. Foi como ver a esperança ganhar forma. Mas não evoluiu. E ali ela desabou.
A culpa veio como um peso invisível, daqueles que só quem já carregou sabe como machuca. Foram meses de terapia, reconstrução, entendimento. E Tiago? Seguia segurando tudo, inclusive ela.
Em 2023, vieram as tentativas clínicas: inseminação, retirada de trompa… e a notícia brutal de que o médico precisou retirar as duas trompas. O caminho natural para engravidar tinha sido fechado. Um luto silencioso, doloroso, profundo.
E ainda não era o fim das batalhas.
O apêndice teve que ser retirado. Depois descobriram que o intestino dela estava semi-obstruído. Vieram mais cirurgias, quatro em seis meses. Internações, retornos, medo, noites de desespero. O corpo emagrecendo, a alma ficando frágil, o estresse pós-traumático batendo na porta.
E naquele período tão pesado, Tiago continuou firme. Cansado, sim. Preocupado, claro. Mas sempre ao lado dela, sem soltar a mão. É aquele tipo de amor que não aparece em filmes, porque é maior, mais cru, mais verdadeiro.
Em 2024, finalmente um respiro. Esperança nova. Força recuperada. E a decisão: tentar fertilização in vitro.
Eles tentaram. Com coragem. Com fé. Com alma. Mas não deu certo.
Mais um “não”. Mais um luto. Mais um recomeço interno.
E cada “não” veio acompanhado de mais um recomeço. De mais joelhos no chão, de mais Ave-Marias, de mais silêncio abraçado.
E aí veio 2025, já trazendo mais desafios. Aderências no intestino. Uma nova cirurgia. Sepse. Derrame pleural. Esteatose hepática. Internações prolongadas. O pós-operatório mais difícil da vida dela.
E, no meio de tudo isso, um diálogo que ninguém quer ter: a despedida. Anna chegou a sentir que estava indo. Tiago ouviu. Sentiu. E ficou. De novo. Como sempre.
Mas Deus disse: “ainda não”. E Anna ficou. Com menos intestino, com mais cicatrizes… e com um novo propósito.
Hoje, usando uma bolsa de ileostomia há apenas 48 horas, ela tem uma certeza: ela sobreviveu mais uma vez. Sobreviveu à torção, à infecção, à cirurgia de emergência. Sobreviveu para continuar sua missão, inclusive a de ser voz para mulheres com endometriose.
E, entre tudo isso, há um capítulo lindo se abrindo: Anna e Tiago estão no processo de adoção. Estão arrumando a casa, preparando o coração, deixando tudo pronto para receber os filhos que virão, não do ventre, mas do destino, do amor e do propósito.
Eles ainda vão voltar para contar o testemunho completo. E eu, daqui, continuo acompanhando, e admirando esse amor que desafia qualquer lógica.
Porque, no fim das contas, a história deles não é sobre dor. É sobre coragem. Sobre fé. Sobre resistência. E, acima de tudo, sobre um amor que não solta a mão, mesmo quando o mundo desaba.


















































