Disseram que acabou. Que o Brasil, finalmente, decidiu botar fim na novela da reeleição. E, como todo bom final de novela, a promessa é de que agora as coisas vão mudar. Governadores, prefeitos e presidentes terão uma chance só. Um só tiro. Uma só oportunidade. E nada de remake.
Parece lindo no papel. Quase uma poesia política. Só falta combinar com os bastidores.
Com a PEC aprovada na CCJ do Senado, o plano é nobre: mandato de cinco anos e eleições unificadas. Uma verdadeira faxina no calendário eleitoral. Tudo pra “modernizar o sistema”, dizem os engravatados. Mas cá entre nós… será mesmo?
Porque a gente já viu esse filme. Em preto e branco, em cores, em alta definição. A promessa da moralização. Do fim dos vícios. Do tal “novo jeito de fazer política” que, no fim das contas, só muda o rótulo da garrafa, mas o conteúdo continua azedo.
O fim da reeleição soa bem para quem acredita em renovação. E soa ainda melhor para quem sabe que, sem chance de reeleger, dá pra saquear tudo de uma vez só. Sem compromisso com o amanhã. Sem medo de perder voto. Sem precisar fingir que se importa.
Imagina só o prefeito da sua cidade — aquele mesmo que hoje já ignora a população no segundo ano de mandato — com mais três anos de carta branca e nenhuma pressão popular? Não soa como democracia. Soa como carta de alforria para a incompetência.
Mas vamos fingir que vai dar certo. Que os mandatos únicos vão forçar os gestores a fazer bonito, já que não terão segunda chance. Que o cidadão vai lembrar de quem votou em 2034, quando todos os cargos forem decididos de uma vez só. Que o povo vai se organizar e que a urna será o instrumento da mudança — e não da amnésia coletiva.
A esperança é teimosa. Ela sempre volta. Mesmo quando tudo indica que, no Brasil, mudar a regra é só mais uma forma de manter o jogo do mesmo jeito.