Toda semana alguém me manda uma notícia triste. Vemos nos jornais, nos noticiários, no rádio e no Instagram: um professor que errou, uma escola que falhou, um caso de violência. Vira manchete rápida. Vira assunto. Vira julgamento.
E eu sempre penso a mesma coisa: se o erro aparece tanto, por que o cuidado quase nunca aparece? Quem conta as histórias bonitas que acontecem todos os dias nas escolas públicas?
Outro dia vivi uma cena que poucas pessoas conhecem. Uma agente de apoio escolar ensinou Libras para uma criança autista não verbal. Nenhuma câmera registrou. Nenhum repórter chegou. Foi só ela, a criança e uma paciência que não cabe em notícia.
No começo, ele não se comunicava. Muita gente já tinha desistido. Mas ela não desistiu. Aprendeu sinais básicos, ensinou devagar, repetiu mil vezes. E um dia ele conseguiu dizer o que queria comer. Com as mãos. Com o olhar. Com uma alegria que não cabe em manchete.
Esse momento mudou a vida dele. Mudou a dela também. Mudou a da escola que testemunhou o impossível acontecer sem alarde.
Mas a cidade não ficou sabendo.
A verdade é que, no chão da escola, coisas assim acontecem todos os dias. Uma professora que alfabetiza quem disseram que não aprenderia. Um professor que compra do próprio bolso o material que o aluno precisa. Uma merendeira que percebe o silêncio diferente de um menino triste. Uma coordenadora que abraça e escuta antes de cobrar.
Tudo isso existe. Tudo isso transforma vidas. Mas quase nunca vira notícia.
Quando alguém erra, a mídia explode. Quando alguém salva uma infância, o silêncio é quase absoluto.
E isso diz muito mais sobre a sociedade do que sobre a escola.
É por isso que escrevo esta coluna. Para lembrar que o Brasil também precisa olhar para o que dá certo. Para o compromisso silencioso. Para a beleza diária que nasce mesmo com poucos recursos, pouca estrutura e pouca valorização.
A educação pública não é feita de manchetes de tragédia. É feita de gente extraordinária. Gente que transforma vidas sem esperar aplauso. Gente que acredita nas crianças antes de qualquer laudo, antes de qualquer rótulo, antes de qualquer estatística.
Se existe algo que merece ser contado, celebrado e registrado, é isso.
Que a cidade aprenda a enxergar. Que a imprensa aprenda a equilibrar. Que a sociedade aprenda a agradecer.
Porque todos os dias, dentro de uma sala simples, com uma lousa gasta e uma turma ruidosa, alguém está fazendo o ato mais bonito do mundo.
Está ensinando uma criança a existir.
 
 























