Nelson Rodrigues já falava em síndrome de vira-lata, mas acho que em Foz do Iguaçu ela ganhou uma versão própria, uma mutação tropicalizada.
Em 111 anos de história e 46 prefeitos, a maioria esmagadora não nasceu aqui. E, cá entre nós, isso não é só coincidência, é quase tradição.
É como se a cidade tivesse dificuldade em acreditar nos seus. Lideranças nativas parecem sempre menores, incapazes, sem o “peso” suficiente para governar.
Aí chega um sujeito de mala e cuia, recém-chegado, e pronto: já é visto como o “salvador da pátria”. Foz se ajoelha fácil diante de quem vem de fora, enquanto desconfia de quem cresceu jogando bola na Vila A, pescando no rio ou tomando tererê no Gramadão.
Esse fenômeno diz muito sobre a autoestima coletiva. O iguaçuense não se reconhece como protagonista da própria história. Prefere acreditar que um estranho, mal desembarcado no TTU, conhece melhor a alma da cidade do que quem nasceu com as Cataratas no quintal, ou por quem escolheu viver há anos aqui.
Talvez isso merecesse mesmo virar objeto de TCC: “Síndrome de Vira-Lata em Foz do Iguaçu: a rejeição às lideranças nativas como prática política e cultural”.
Uma tese que explicaria por que, até hoje, a cidade vive trocando de donos sem nunca se assumir como senhora de si mesma.
No fim, a pergunta que fica é simples: se nem o próprio povo confia em quem nasce aqui, como esperar que os de fora governem com amor de quem chama Foz de lar?