A realidade de quem está esperando por uma consulta com especialista é bem conhecida do iguaçuense. E os números da própria Secretaria Municipal da Saúde mostram um cenário preocupante: entre janeiro e março de 2025, foram realizadas 3.084 consultas especializadas a menos em comparação com o mesmo período de 2024.
Segundo dados oficiais do RPSaúde apresentados na audiência pública sobre o 1º Relatório Detalhado do Quadrimestre (RDQ), foram atendidas três mil pessoas a menos por especialistas do SUS no início deste ano.
A queda acontece justamente em uma das áreas mais sensíveis da saúde, marcada sempre por filas, dificuldades de regulação e escassez de profissionais.
A pergunta que não quer calar é: o que motivou essa retração?
Os desafios não são novos. Absenteísmo, ações judiciais, gargalos na regulação e falta de médicos já vinham sendo apontados há anos. Mas a atual gestão assumiu conhecendo esse cenário — e prometendo soluções.
O que não se pode admitir é o silêncio diante da piora nos números, ainda mais em um momento em que o município aumentou os gastos com a Rede Especializada em mais de R$ 5,8 milhões.
De acordo com o relatório da Prefeitura, as despesas com a Rede Especializada saltaram de R$ 39,6 milhões no 1º quadrimestre de 2024 para R$ 45,5 milhões em 2025 — um crescimento de 15% no comparativo anual.
A contradição salta aos olhos: com mais recursos e estrutura, a cidade está atendendo menos. E pior — sem que a população receba um plano claro de como resolver o que está acontecendo.
Há ainda uma situação mais preocupante, embora menos visível: a possível desistência dos próprios moradores de buscar o atendimento. “Não adianta marcar, porque não chamam”, é o desabafo cada vez mais comum nas filas e nas UBSs.
O resultado é o que já se vê nas redes sociais: protestos, reclamações, famílias organizando vaquinhas, vendendo pertences ou parcelando consultas no cartão para conseguir atendimento particular. Muitas vezes, pessoas que mal conseguem pagar o básico estão abrindo mão de outras necessidades para cuidar da saúde.
A redução no volume de consultas acende um alerta grave: menos acesso hoje significa mais agravamento clínico e internações amanhã. É a porta giratória do sistema — que poderia ser evitada com diagnósticos, encaminhamentos adequados e tratamento rápido.
O mínimo que se espera da Secretaria Municipal da Saúde é uma resposta pública, objetiva e transparente.
Por que, mesmo com mais dinheiro em caixa, a cidade está oferecendo menos consultas? E, principalmente, o que será feito para mudar esse cenário?
Enquanto isso, quem sofre é o cidadão, que continua esperando por uma consulta que pode não chegar.