O poeta e jornalista Gilmar Piolla lança seu livro de poesias e haicais, Ecos da Inquietude, no dia 31 de maio, das 15h às 19h, no Café Boutique (Hotel Wyndham), em Foz do Iguaçu. A obra, que explora os temas “ser”, “querer”, “viver” e “sentir”, promete um mergulho nas inquietudes humanas, inspirada por autores como Leminski, Quintana, Pessoa e Nietzsche, com uma voz própria marcada por ironia e observação urbana.

Sobre a Obra
Descrito como uma “travessia e espelho” pela resenha, Ecos da Inquietude não oferece respostas prontas, mas convida os leitores a interpretar seus versos. Com haicais reinventados, como o humorístico “Resiliência”, e poemas que misturam amor, desencanto e a tríplice fronteira — entre o sublime das Cataratas e a crueza das rotas clandestinas —, o livro reflete a pluralidade de Foz do Iguaçu. O prefácio de Caco de Paula destaca Piolla como “poeta de mente aberta”, enquanto a Nota do Autor enfatiza a poesia como “território de liberdade”.
Detalhes do Evento
O lançamento será uma experiência sensorial, com recital de poemas, exposição, apresentação de jazz e degustação de vinhos. A iniciativa celebra a cultura local. Os interessados podem confirmar presença clicando aqui.
Entrevista Exclusiva ao Diário das Águas
Para aprofundar a conexão com o público, Gilmar Piolla concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário das Águas, revelando detalhes sobre o processo criativo e os temas de Ecos da Inquietude. Confira abaixo:
1 — Sobre o processo criativo e a identidade da obra
Na Nota do Autor, você diz que “a poesia deve ser um território de liberdade”. Como você encontrou esse espaço de liberdade ao escrever Ecos da Inquietude, e o que significa, para você, construir uma poesia que convida o leitor a interpretar sem impor respostas?
Resposta do autor: Encontrei esse espaço de liberdade ao me permitir escrever sem a obrigação de agradar ninguém ou obedecer a modelos preconcebidos. Poesia, para mim, é um convite e não uma imposição; um espelho fragmentado onde cada leitor se vê de uma forma diferente. Não busquei construir verdades, mas oferecer possibilidades. Por isso, Ecos da Inquietude convida à interpretação, com versos abertos, que respeitam o silêncio e a subjetividade de quem lê.
A resenha destaca influências de Leminski, Quintana, Pessoa e Nietzsche. Como essas vozes dialogaram com a sua durante a criação do livro, e como você garante que sua poesia tenha uma identidade própria, distinta dessas referências?
Resposta do autor: Essas vozes dialogaram comigo como interlocutores generosos — Leminski, com seu humor debochado e filosófico, e seus haicais de métrica livre; Quintana, com a delicadeza das imagens; Pessoa, com a introspecção; e Nietzsche, com a rebeldia contra as certezas absolutas. Mas nunca como modelos a serem seguidos. Minha identidade se afirmou no modo como os escutei e, a partir desse diálogo, construí algo que é meu: uma poesia que transita entre o lirismo, a ironia e a observação urbana. Além disso, há intertextualidades menos óbvias, como com Sándor Petőfi, que reforçam esse ecletismo.
2 — Sobre os temas e a estrutura do livro
Ecos da Inquietude é dividido em quatro eixos — ser, querer, viver e sentir. Como você chegou a essa estrutura, e o que cada um desses eixos representa na sua visão do humano e do mundo?
Resposta do autor: A estrutura nasceu do desejo de organizar a pluralidade de temas que percorri ao longo dos anos e que considero pilares fundamentais da existência humana. O eixo “ser” fala da identidade e das angústias existenciais; “querer”, dos desejos e inquietações; “viver”, do cotidiano e suas contradições; e “sentir”, da experiência emocional e afetiva. Juntos, formam um mapa imperfeito, mas honesto, das complexidades humanas que me mobilizam e que acredito mobilizarem qualquer um de nós.
A obra transita entre a leveza e a densidade, o humor e a introspecção. Como você equilibra esses tons opostos, e qual foi o maior desafio em capturar essa pluralidade nos poemas e haicais?
Resposta do autor: Equilibro esses tons porque os reconheço como complementares. A leveza alivia a densidade; o humor ilumina a introspecção. O maior desafio foi manter essa pluralidade sem perder a coesão estética. Busquei criar uma obra que não fosse monocórdica, mas que preservasse um fio condutor: a inquietude, que perpassa tanto o riso quanto a reflexão. A vida no dia a dia exige de nós um constante equilíbrio entre ser e não ser, querer ou não querer, sentir ou não sentir, viver ou não viver.
3 — Sobre o contexto e a inspiração local
A tríplice fronteira, com sua ambiguidade entre o sublime das Cataratas e a crueza das rotas clandestinas, aparece em poemas como Fronteira Desvairada. Como o ambiente de Foz do Iguaçu moldou sua escrita, e de que forma a região se reflete nas inquietudes do livro?
Resposta do autor: Viver na tríplice fronteira é conviver diariamente com paradoxos: o esplendor da natureza e a dureza das tensões humanas. Esse ambiente moldou minha escrita ao ampliar minha percepção sobre a ambivalência da existência. Em Ecos da Inquietude, Foz do Iguaçu aparece como metáfora dessa coexistência entre o sublime e o precário, entre o fluxo livre das águas e as fronteiras invisíveis que se impõem sobre as pessoas.
Como jornalista, você lida com a objetividade da notícia. Como essa experiência influencia sua abordagem poética, especialmente na observação urbana e na reinvenção dos haicais?
Resposta do autor: O jornalismo me ensinou a observar com atenção e síntese, duas habilidades essenciais também na poesia. Nos haicais, especialmente, adaptei essa capacidade de captar o essencial em poucas palavras, reinventando a forma clássica para incluir a ironia e a observação do cotidiano urbano. Minha experiência como jornalista me deu o rigor da concisão; a poesia, a liberdade de transgredi-la.
4 — Sobre a relação com o leitor
A resenha destaca que seus versos “não impõem, convidam”. Como você imagina o papel do leitor na construção de sentido em Ecos da Inquietude, e que tipo de diálogo você espera que a obra estabeleça com quem a lê?
Resposta do autor: Vejo o leitor como coautor. Cada poema só se completa no olhar de quem o lê. Espero que a obra estabeleça um diálogo silencioso, íntimo, onde cada um possa reconhecer suas próprias inquietudes, espantos e desejos. Não ofereço trilhas prontas, mas sementes de reflexão, esperando que floresçam de maneiras inesperadas em cada leitor.
Você escreve que “as palavras só ganham vida quando encontram outras vidas”. Qual é a importância, para você, do evento de lançamento como um momento de encontro entre suas palavras e o público?
Resposta do autor: O lançamento é a celebração desse encontro: um momento em que as palavras deixam de ser apenas minhas e passam a habitar outras vidas, outros repertórios. Mais do que um evento, é um rito de passagem, em que a obra se transforma ao ganhar novos sentidos na experiência dos leitores, com quem compartilho não apenas os versos, mas também a presença, o afeto e a emoção.
5 — Sobre os haicais e a inovação
Seus haicais trazem ironia e observação urbana, reinventando a forma clássica. O que o atraiu ao haicai, e como você adaptou essa estrutura tradicional para refletir suas inquietações contemporâneas?
Resposta do autor: O haicai me atrai pela síntese e pela capacidade de condensar emoções e imagens em poucos versos. Aprendi com o poeta Delores Pires, frequentando a Feira do Poeta, no Largo da Ordem, em Curitiba, a extrair o máximo do mínimo: a escrever pouco e dizer tudo. Mas senti a necessidade de adaptá-lo à minha realidade — um ambiente urbano, complexo e muitas vezes irônico. Por isso, reinventei a estrutura clássica, criando o que chamo de “poesias leminskianas”: haicais livres e sonoros, que preservam a síntese, mas acolhem o humor e a provocação.
No haicai Resiliência, você usa humor para falar de superação. Como o humor se tornou uma ferramenta em sua poesia, e por que ele é importante para abordar temas universais?
Resposta do autor: O humor é uma forma de humanizar a dor e tornar mais suportáveis as contradições da existência. Em Resiliência, e em outros poemas, o humor surge como um gesto de resistência, de quem sabe rir mesmo quando o fardo pesa. É uma ferramenta essencial para abordar temas universais sem cair na solenidade excessiva. O humor aproxima, desarma e revela a beleza possível nas imperfeições.
6 — Sobre o evento de lançamento
O lançamento no Café Boutique promete uma experiência sensorial com recital, jazz, exposição de poemas e degustação de vinhos. Como você idealizou esse evento, e de que forma ele reflete o espírito de Ecos da Inquietude?
Resposta do autor: Idealizei o lançamento como uma experiência sensorial e afetiva, que extrapolasse o livro. Quis criar um ambiente onde a poesia se encontrasse com a música, o café, o vinho e a presença física das pessoas, misturando-se com a exposição e o recital. Assim como o livro não é linear nem monótono, o evento também propõe uma travessia por diferentes estímulos, refletindo o espírito múltiplo e livre de Ecos da Inquietude.
Como o apoio cultural de diversas empresas e instituições de Foz do Iguaçu impacta a realização do lançamento e a mensagem que você deseja transmitir com o livro?
Resposta do autor: O apoio dessas empresas e instituições é fundamental, não apenas para viabilizar as três edições do livro (impressa, e-book e audiobook), o evento e a exposição, mas também para reforçar a ideia de que cultura se constrói coletivamente. Ecos da Inquietude nasceu no contexto de Foz do Iguaçu e é um reflexo desse território plural. O apoio local reafirma a conexão da obra com a cidade e transmite uma mensagem de valorização da cultura como um bem comum, que transcende o autor.
7 — Sobre o impacto e a relevância da obra
Em um mundo acelerado, onde a poesia muitas vezes parece ocupar um espaço marginal, como você enxerga o papel de Ecos da Inquietude em oferecer “espaço de respiro e encontro”, como sugere a resenha?
Resposta do autor: A poesia é um contraponto necessário à aceleração e à superficialidade que marcam nosso tempo. Ecos da Inquietude busca oferecer esse espaço de respiro: um tempo desacelerado, onde a palavra convida à pausa, à reflexão, ao encontro consigo mesmo e com o outro. Mais do que resistência, é um gesto de cuidado e de afirmação da sensibilidade como essencial à experiência humana.
Que inquietudes pessoais você espera que o livro ajude a iluminar ou acolher, tanto para você quanto para os leitores, em um momento de tantas transformações globais?
Resposta do autor: Não tenho grandes pretensões com Ecos da Inquietude. Alguns vão gostar, outros, odiar. Espero que o livro ilumine a possibilidade de abraçar as próprias contradições sem a necessidade de resolvê-las. Que acolha as dúvidas, os desejos, as angústias — essas marcas inevitáveis da nossa humanidade. Em tempos de transformações globais e de incertezas, acredito que a poesia pode ser esse espaço de acolhimento, onde a inquietude não é vista como fraqueza, mas como potência vital.