Dezembro chega vestido de brilho, mas ninguém pergunta o peso do tecido.
Nos corredores, purpurina no chão.
Nas paredes, fitas que caem.
Na agenda, ensaios que se estendem além do corpo.
A escola se prepara para celebrar o ano que passou, mas quem a sustenta mal encontra lugar para se sentar.
Entre uma apresentação e outra, há professores que guardam lágrimas nos bastidores não por tristeza, mas por exaustão.
Há quem compre tinta, cartolina e laço, mesmo quando o contracheque já não acompanha.
Há quem sorria nas fotos, mas conte o tempo no relógio interno que já não combina com dezembro.
Todos esperam festa.
Quase ninguém oferece descanso.
O palco se ilumina, mas o preparo é escuro.
Há docentes que viram a madrugada cuidando dos últimos detalhes.
Há funcionários que repetem coreografias com um corpo que pede repouso.
Há crianças que ensaiam mais do que brincam.
Há famílias que assistem, raramente enxergam.
Há quem chame isso de rotina escolar.
Mas dezembro não é rotina: é sobrecarga ritualizada.
E, ainda assim, a escola segue.
Não por obrigação, mas por cuidado.
O espetáculo só acontece porque alguém, silenciosamente, segura o enfeite que descola, o figurino que rasga, a coragem que treme.
Porque, antes da festa, existe trabalho.
E, antes do trabalho, existe corpo.
Que dezembro soubesse disso.
Que entendesse que a celebração também cansa, que o brilho também pesa, que o sorriso também exige fôlego.
No fim, não precisava tanto.
Uma roda simples bastaria.
Uma música sem coreografia.
Um abraço que não fosse registro.
Dezembro não pede mais luz: pede menos exigência.
E, se houver festa, que seja pequena o suficiente para caber no colo de quem a construiu.
Sem palco.
Sem pressa.
Sem performance.
Só presença.



























