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Ideb: a pedagogia do improviso e o teatro dos números

O índice que virou vitrine de gestores e castigo para professores.

Filipe Peixotopor Filipe Peixoto
30 de julho de 2025
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Foto: Reprodução.

Foto: Reprodução.

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Vivemos em um país onde, segundo discursos oficiais, a educação pública está em constante evolução. Os gráficos sobem, os relatórios são positivos, os índices batem metas.

Mas como explicar, então, que as mesmas escolas que alcançam esses números ainda enfrentem a falta de giz, de papel, de estrutura mínima para funcionar? Como é possível que o mesmo sistema que produz esses dados também produza tanto improviso, tanto adoecimento e tanta desistência?

— O que, afinal, o Ideb está realmente medindo? E quem está sendo responsabilizado por esses resultados?

Antes de avançarmos nessas questões, é fundamental compreender de forma clara o que é o Ideb e como ele funciona. Para isso, pense no seguinte exemplo:

Vamos supor que uma escola seja como um time que precisa treinar bem seus jogadores (os alunos) e, ao mesmo tempo, garantir que todos participem dos jogos até o fim da temporada (o ano letivo).

O Ideb é como um placar final que mostra o desempenho desse time, avaliando dois pontos principais: quanto os alunos aprenderam e quantos conseguiram terminar o ano sem repetir.

Esse placar foi criado pelo governo brasileiro em 2007 para acompanhar a qualidade da educação nas escolas públicas. Ele se chama Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, ou Ideb. Vamos por partes:

Primeiro, o aprendizado: Os alunos fazem uma prova a cada dois anos, chamada Saeb, com questões de Língua Portuguesa e Matemática. As notas dessas duas disciplinas são somadas e divididas por dois, para se obter uma média. Isso mostra o quanto os alunos aprenderam em sala de aula.

Depois, o fluxo: A segunda parte do cálculo olha para o que chamamos de taxa de aprovação — em outras palavras, quantos alunos conseguiram passar de ano sem repetir ou abandonar a escola.

Para saber o Ideb de uma escola ou rede de ensino, a fórmula é simples:

Fonte: Ideb, Inep.
Fonte: Ideb, Inep.
 

Essa nota varia de 0 a 10, mas alcançar 10 é quase impossível, porque isso exigiria que todos os alunos aprendessem tudo que deveriam e nenhum fosse reprovado. Ou seja, o 10 é mais uma referência de excelência do que uma meta realista.

O Ideb serve para mostrar se as escolas estão indo bem ou se precisam melhorar. Ele ajuda o governo a tomar decisões e permite que os pais, professores e gestores acompanhem a qualidade da educação. Também são estabelecidas metas para que a nota suba ao longo dos anos.

A lógica parece equilibrada. Mas o problema começa quando esse índice, em vez de ser uma ferramenta para diagnosticar e melhorar, vira um fim em si mesmo — uma meta a ser batida a qualquer custo.

No entanto, ao longo dos anos, o Ideb se tornou um poderoso instrumento político — não para melhorar a educação, mas para alimentar a ficção de que está tudo sob controle.

E por que isso importa tanto para as escolas?

Porque o Ideb se tornou o principal termômetro da qualidade da escola pública brasileira.

Mas há um ponto crítico: o Ideb não é apenas um indicador — ele virou uma régua política, um mecanismo de pressão constante sobre professores, diretores e redes de ensino.

Como ele é divulgado publicamente e influencia repasses de recursos e reputações políticas, muitos gestores passaram a exigir melhorias nos números a qualquer custo. E isso gerou distorções profundas.

Esse tipo de pressão se intensificou com a cobertura da mídia e o uso político do Ideb, especialmente nos anos finais do Ensino Fundamental — etapa-chave para medir o cumprimento de metas nacionais.

A partir daí, o que era para ser um indicador da realidade passou a funcionar como um instrumento de controle. Um recurso que, em vez de apoiar a escola, passou a sufocá-la.

Alguém precisa dizer o que muitos evitam: a fachada está ruindo. O Ideb é uma ilusão — um indicador que promete medir a qualidade da educação, mas que, na prática, esconde desigualdades, distorce prioridades e silencia o cotidiano das escolas.

Por trás dos discursos oficiais e dos resultados comemorados em redes sociais, a realidade das escolas é outra: professores sobrecarregados, estudantes com defasagens graves, falta de estrutura mínima e um cotidiano marcado pela precariedade.

Para alcançar as metas impostas pelo índice, professores são pressionados a aprovar alunos sem condições mínimas de aprendizagem — tudo para que os números fechem e a propaganda institucional continue funcionando.

— A verdadeira avaliação escolar se faz no processo. É enquanto se ensina que se identifica onde estão os problemas, os desvios, as incompreensões, e se tenta resolver. Mas isso exige escuta, tempo, estrutura e um profissional qualificado: o professor.

Com o Ideb como régua de prestígio político, escolas públicas passaram a se organizar para alimentar esse sistema de metas. Ocorre que, sem recursos adequados, muitas delas recorrem à criatividade e ao apoio da comunidade para garantir o mínimo. É comum que professores e equipes escolares promovam festas, rifas, campanhas e bingos para comprar papel sulfite, vidro para janelas quebradas, tinta para pintar paredes, brinquedos, televisores, câmeras de segurança e até alimentos para merenda complementar.

— E enquanto tudo isso acontece no improviso, autoridades posam para fotos dizendo que “a educação avança com inovação”.

A educação pública brasileira, mesmo com um dos maiores investimentos proporcionais ao Produto Interno Bruto entre os países em desenvolvimento, convive com contradições absurdas. Recentemente, veio à tona um rombo de mais de R$ 4 bilhões de reais no Ministério da Educação, classificado por setores do governo como uma “distorção contábil”. A escolha das palavras, mais uma vez, revela a tentativa de suavizar a gravidade da crise e manter a narrativa de progresso.

— Mas não há narrativa que sustente uma escola onde o professor precisa comprar giz com o próprio salário, enquanto empresários, políticos e burocratas lucram com plataformas inúteis, diagnósticos genéricos e materiais padronizados que não dialogam com a realidade dos alunos.

A suposta neutralidade técnica do Ideb esconde um modus operandi cruel. A avaliação externa padronizada desloca a responsabilidade da qualidade da educação para dentro da escola, culpabilizando professores e estudantes por resultados que são, na verdade, consequência de décadas de políticas malconduzidas, cortes orçamentários, terceirizações ineficazes e desrespeito à carreira docente.

— Avaliação escolar é coisa séria demais para ficar nas mãos de amadores, políticos inescrupulosos e empresários gananciosos. Mas é exatamente sobre esse tripé que se sustenta a mentira chamada avaliação externa no Brasil.

O que se construiu com o Ideb não é um sistema de monitoramento, mas um sistema de controle. Um mecanismo que serve para manter gestores bem avaliados, alimentar relatórios publicitários e oferecer aos governos munição para narrar um sucesso que só existe nas planilhas.

O Ideb não mede a capacidade de pensar, nem o espírito crítico, nem o envolvimento da escola com sua comunidade. Ele tampouco revela o esforço cotidiano de educadores que, mesmo em condições adversas, tentam garantir sentido à aprendizagem. A escola pública brasileira está sendo moldada por metas frias, enquanto sua missão pedagógica se dissolve em burocracia.

— O importante, para os “profissionais da política”, é que você pense que está tudo funcionando. Que seu filho está bem assistido. Que o sistema está em constante evolução. Mas, na prática, professores precisam se humilhar por reajustes mínimos, verbas atrasam, estruturas desabam — e tudo segue funcionando à base do improviso.

A deterioração da educação pública também passa pela ocupação de cargos estratégicos por pessoas sem qualquer preparo técnico, nomeadas por critérios políticos e mantidas por acordos de conveniência.

Muitas vezes, não há má-fé — apenas absoluta falta de competência. São gestores perdidos em suas funções, que tratam a legislação educacional como um conjunto de normas flexíveis, ajustáveis ao gosto de interesses locais, corporativistas e imediatistas.

A tomada de decisão passa a ser guiada por influências indevidas, vindas tanto de dentro quanto de fora do sistema, sustentadas por uma teia de indicações frágeis e lideranças sem qualquer visão pedagógica — cercadas por assessores que não servem à educação, mas aos próprios interesses, completamente alheios à realidade das escolas.

Enquanto isso, os verdadeiros profissionais da educação — aqueles que enfrentam o chão da sala de aula todos os dias, que conhecem cada falha do sistema porque convivem com elas — seguem ignorados. Lutam solitários para manter o mínimo funcionando, enquanto o discurso oficial exibe prêmios, conferências e rankings como se fossem troféus de um progresso inexistente.

Mas, por trás das palmas e dos painéis coloridos, há uma escola esvaziada de sentido, que empurra seus estudantes rumo ao abismo da desmotivação, da evasão escolar e da ignorância transformada em rotina.

Não se trata de rejeitar a avaliação — muito pelo contrário. O que está em jogo é a defesa de uma avaliação viva, ética, construída com sensibilidade pedagógica e presente no cotidiano escolar.

O Ideb, do jeito que está, é um espelho trincado, que já não reflete a escola — mas apenas o delírio de quem se recusa a enxergá-la. E, enquanto esse reflexo distorcido continuar servindo de bússola, estaremos aplaudindo ruínas, premiando o colapso e, pior, educando para o nada.

Fonte: Filipe Peixoto
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Filipe Peixoto

Filipe Peixoto

Pedagogo e especialista em Educação Digital, com formação voltada ao uso de tecnologias aplicadas à aprendizagem.

Com a palavra, Filipe Peixoto

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