A cidade viveu uma semana mais silenciosa que todas. Talvez pelo vento que passa pelas árvores, ou pela consciência pesada, Foz do Iguaçu parece ter tomado um fôlego contido. Pois partiu quem, por décadas, foi parte constitutiva do seu pulso político e humano: Dobrandino Gustavo da Silva.
Enquanto eu nascia lá no Recife, Dobrandino, em 1986, se tornou o primeiro prefeito eleito por voto direto. Ele enfrentou o tempo, as disputas, os descontentamentos e as esperanças, sempre olhando para a cidade com olhos de promessa.
Quando essa notícia chegou, por um instante pensei: “Esse homem marcou toda uma geração.” Ele carrega não apenas uma biografia que se encerra, mas um capítulo de muitos que pertencia a todos nós. Na calçada, alguém anuncia: “Morreu Dobrandino.” E, por um instante, o barulho dos carros parece sumir, o burburinho cotidiano se aquieta. Há, no ar, um pesar coletivo: aquele de quem reconhece que uma era se desfaz.
Dobrandino não era apenas político de gabinete; era figura de chão, de ruas, de bairros onde fez obras, calçadas, água, saneamento, pavimentação. Cada passo que ele deu na cidade, com apoio ou crítica, moldou esquinas, esperanças, rotas. Hoje, esses traços ficam mais nítidos: uma avenida, um bairro, uma ponte entre ontem e amanhã.
Ele enfrentava a saúde fragilizada, complicações da diabetes, insuficiência renal, e acabou sucumbindo a uma parada cardíaca no Hospital Unimed, no primeiro suspiro do fim. Mas sua partida não é algo silencioso, discreto; é um estrondo no coração da história local.
A prefeitura decretou luto oficial. A Câmara Municipal lamentou. As bandeiras baixaram a meio-mastro. São gestos que, mais que formalidade, são ecos de reconhecimento de que seu nome agora se integra ao caderno das almas cuidadoras da cidade.
É curioso: quando perdemos alguém que parecia permanente, percebemos o quão mutável é tudo. A juventude se vai, os rostos mudam, as vozes somem. Mas o que permanece — o legado — é trabalho, suor, política feita com entrega, compromisso e, sobretudo, a crença de que uma cidade pode ser mais do que concreto e asfalto: pode ser gente, memória e amor ao público.
Foz chorou não só porque um homem se foi, mas porque algo de sua própria narrativa ficou órfã. Mas a memória é resistente; e enquanto houver quem conte, quem celebre, quem replique o ideal, Dobrandino seguirá em cada esquina que ajudou a sonhar.
Que descanse em paz, e que em cada voz, em cada nova geração, sua sombra se faça luz.