A morte deixou de chocar.
Virou manchete breve, estatística repetida, trilha sonora do café da manhã. A cada novo crime, o país assiste, comenta, compartilha e segue.
O horror virou hábito, e o sangue já não espanta.
Vivemos um tempo em que matar parece ser a resposta mais simples, a solução imediata para qualquer desavença, o desfecho natural de um impulso.
Um olhar atravessado, uma discussão banal, um término, uma dívida, um celular. Tudo serve de gatilho.
E, no fim, mais uma vida se apaga, mais uma família se desfaz, mais um corpo vira número na estatística do fracasso.
O problema é que, por trás dessa rotina, há uma verdade incômoda: o medo da punição desapareceu.
A impunidade virou norma, e o criminoso aprendeu que o risco é mínimo.
Num país onde o direito é interpretado conforme o humor de quem o aplica, e a pena é convertida em benefício, o crime se tornou um investimento de baixo custo.
Mata-se por impulso, mas também por cálculo.
Mata-se porque, em muitos casos, não há consequências reais.
De um lado, a sociedade assiste anestesiada.
Do outro, o Estado se curva diante da própria covardia.
Leis frouxas, julgamentos lentos, decisões complacentes, um sistema que protege o criminoso e deixa a vítima abandonada no silêncio do esquecimento.
Um país que tem mais empatia pelo autor do crime do que pela dor de quem o sofreu.
Todos os dias, o noticiário despeja o mesmo roteiro: feminicídios, latrocínios, execuções, tragédias familiares.
Mas tudo é absorvido com a mesma frieza de sempre.
A morte perdeu peso porque a vida perdeu valor.
A violência virou entretenimento, um clipe, um vídeo, um comentário.
E quanto mais assistimos, menos sentimos.
A banalidade da morte é o retrato mais cruel da nossa falência moral.
É o resultado de décadas de relativismo, de discursos que confundem justiça com vingança, de governos que tratam criminosos como vítimas do sistema.
É o preço de um país que tem medo de impor limites, medo de punir, medo de ser justo.
A verdade é que a vida perdeu autoridade.
O crime ganhou voz, ganhou palco, ganhou narrativa.
O assassino tem espaço para se justificar; a vítima tem apenas um retrato e uma data.
E enquanto o poder público se entretém com debates ideológicos e o judiciário se enfeita de tecnicismos, as ruas seguem em silêncio, regadas a sangue.
A cada nova tragédia, a reação é a mesma: um minuto de revolta e uma eternidade de esquecimento.
A banalidade da morte não é apenas um sintoma, é o diagnóstico final de uma nação que desistiu de se indignar.
O Brasil não perdeu o medo da morte.
Perdeu o respeito pela vida.

































