Eu ia escrever sobre outra coisa.
Mas, na semana passada, houve o tal do Dia do Cabelo Maluco na escola.
E eu simplesmente não consegui ficar em silêncio.
Cresci ouvindo que meu cabelo era ruim, “exótico, diferente demais.
Passei anos tentando ajeitar, disfarçar, esconder.
A dor que senti com isso a vergonha, o riso dos colegas, os olhares dos adultos não foi brincadeira.
E ainda não é.
Quando vejo escolas promovendo esse tipo de atividade lúdica, me pergunto: para quem isso é divertido?
Porque para muitas crianças negras é só mais um dia em que seu corpo vira fantasia.
Seu cabelo que é identidade vira piada.
E tem mais: além do racismo disfarçado de diversão, há o capacitismo embutido.
Cabelo “maluco”? O que é isso?
Por que ainda usamos a loucura como algo engraçado ou anormal?
Quantas crianças com sofrimento mental estão ali, sendo expostas a um vocabulário que reforça estigmas?
A ciência já avisou. A escola precisa ouvir.
Segundo estudos da Universidade de Harvard, o racismo cotidiano e a ausência de suporte são experiências adversas na infância.
Esse tipo de violência constante ativa o cérebro em alerta, provocando o chamado estresse tóxico. Isso afeta o desenvolvimento, a autoestima e a saúde emocional.
E não é exagero. É dado:
- 61% dos casos de racismo acontecem nas pré-escolas.
- 38% nas creches.
- 54% dos responsáveis relatam racismo nas instituições de ensino.
Dói saber que enquanto algumas crianças podem brincar com o cabelo, outras crescem tentando sobreviver ao próprio.
Cabelo não é adereço.
Cabelo é história.
É herança.
É sagrado.
Talvez a gente precise reformular a pergunta:
Em vez de “cabelo maluco”, que tal um “dia do orgulho das raízes”?
Porque respeito também se aprende. E começa na infância.
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* Fonte: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal / Datafolha.

























