Nas correntes líquidas de nossa política, há decisões que escorrem com a fluidez da água, enquanto outras emperram, entopem, secam…
De um lado, temos a Força Aérea Brasileira escancarando suas asas para trazer uma ex-primeira-dama do Peru condenada por corrupção: voo da FAB, desembarque em Brasília, sigilo de 5 anos sobre gastos. A burocracia molhada é abafada pelo véu do “relevante para a segurança nacional”.
Do outro, surge o silêncio seco diante do translado do corpo de Juliana Marins, uma jovem morta na Indonésia, e cujo retorno ao Brasil foi negado: “não há base legal nem dotação orçamentária”.
A comparação é certa: num canal de água limpa, nutre-se a regalia e o estoque público para os poderosos. É o ouro líquido da justiça: quando cobre alguém de poder, voa alto. Quando jorra da dor sem recursos, encalha em decretos e omissões.
Nesse ciclo, nossos mananciais se contam: um corpo de uma filha da pátria tem de ser pago, chorado, transladado por vontade popular, e é negado. Já o corpo do poder estrangeiro é pago, protegido, justificado por “razões humanitárias”.
A água da integridade precisa fluir para todos os que morrem, para todos os que vivem. Água que garanta dignidade no fim e não apenas nos privilégios.