Quando um governo precisa justificar uma escolha ruim, a culpa costuma cair no asfalto — ou melhor, no tipo errado de asfalto.
Nos últimos dias, pessoas próximas à Prefeitura de Foz do Iguaçu passaram a criticar o uso do PMF (Pré-Misturado a Frio), como se esse material fosse o responsável pelos buracos que insistem em voltar.
O problema é que essa crítica surgiu logo depois de a própria prefeitura gastar R$ 10,2 milhões em emulsão RL-1C, o principal insumo para fabricar… PMF.
É como se alguém dissesse que farinha não presta, mas tivesse acabado de comprar 10 toneladas para fazer pão.
Não dá para ignorar a contradição. Pior: o CBUQ, apontado agora como a solução ideal, ainda nem foi comprado. Está em fase de licitação, com teto estimado em R$ 7,6 milhões — menos do que já foi gasto com o insumo que agora querem desqualificar.
A verdade é simples: o PMF não é ruim. O que é ruim é a aplicação mal feita, a falta de planejamento, o desperdício e a tentativa de empurrar a culpa para o material quando a gestão falha.
Enquanto isso, quem deu aula de eficiência foram os criadores de conteúdo das páginas @paranapop, @foznafita, @edqueiroz e @foz1000grau. Com dinheiro do próprio bolso, compraram sacos de INSTANT-PAV — um produto ensacado, frio e pronto para aplicação — e foram às ruas tapar buracos.
E um detalhe importante: eles compraram no varejo, pagando cerca de R$ 70 por um saco de 25 kg — ou seja, R$ 2,80/kg. Mesmo com preço cheio e sem escala, pagaram menos da metade do que a prefeitura desembolsou apenas pela emulsão RL-1C, que saiu por R$ 4,47/kg — e ainda precisa ser misturada, processada, transportada e aplicada com máquinas e equipes pesadas. Ou seja, o custo total do PMF na mão da Prefeitura é ainda mais alto do que o declarado.
Esses influenciadores não resolveram o problema da malha viária da cidade — nem era esse o objetivo. Mas provaram que boa vontade, criatividade e transparência custam menos do que milhões e desculpas.
Agora, diante da pressão popular, a administração tenta mudar o discurso: culpa o material, diz que vai fazer diferente, tenta vender a ilusão de que tudo será resolvido com uma nova compra.
Mas a pergunta que fica é: por que compraram — e continuam usando — o que agora dizem que não funciona?
Em Foz do Iguaçu, os buracos não estão só no asfalto. Estão também no discurso, na gestão e, principalmente, na coerência.
Porque asfalto ruim a gente substitui. Mas má gestão — isso sim, é difícil de tapar.